Arqueologia de um pensamento
por Aline Montenegro Magalhães
O livro Matrizes do pensamento museológico de Gustavo Barroso já se lança como uma referência para os estudos sobre a museologia e os museus no Brasil. Em pesquisa densa e minuciosa, Ivan Coelho de Sá realiza uma arqueologia do pensamento museológico barroseano, apresentando as tramas e refazendo as tecituras do texto “Noções de Organização, Arrumação, Catalogação e Restauração”, que integra a “Parte Geral” do primeiro volume de Introdução à Técnica de Museus, publicado por Gustavo Barroso, em 1945.
Para percorrer o caminho que Barroso teria seguido ao escrever sua obra didática, voltada para os alunos do Curso de Museus, que foi criado em 1932 e era então coordenado por ele, Ivan utiliza uma lente de aumento para identificar a diversidade de autores e correntes de pensamento impressos nas linhas e nas entrelinhas do texto barroseano. São referências a intelectuais, artigos e catálogos muitas vezes não reveladas ou reveladas de modo incompleto, o que resultou em trabalho hercúleo de leitura e cotejamento de fontes.
E assim, o autor vai destacando fio a fio dessa costura, compartilhando com as leitoras e os leitores sua metodologia, suas escolhas, os desafios enfrentados e também as perguntas sem resposta. Oferece-nos, portanto, os meios para compreender a polifonia que marca o pensamento barroseano, totalmente em dia com o seu tempo e com as preocupações preservacionistas de um contexto internacional marcado pelas duas Guerras Mundiais.
Este livro mostra um Gustavo Barroso leitor de autores europeus, norte-americanos e, em menor medida, latino-americanos. Mas também um autor que se apropria de maneira crítica dos textos lidos e das experiências vividas em viagens, onde procurou conhecer os museus e seu funcionamento.
E aqui, não é só Gustavo Barroso o protagonista dessa história. Além dos autores lidos e das instituições visitadas, detalhadamente referenciados em notícias biográficas e históricas, Ivan trabalha com depoimentos de ex-alunos de Barroso e funcionários que com ele trabalharam, nos apresentando a relação entre a teoria presente no texto e ensinada na sala de aula e a prática museológica cotidiana compartilhada no Museu Histórico Nacional.
E, finalizando o ano 2019, quando se completa seis décadas do falecimento de Gustavo Barroso, vale uma nova oportunidade de reflexão sobre o seu papel no campo dos museus e da museologia, para além do seu conservadorismo historiográfico e político. É o que Ivan nos oferece com este livro. Boa leitura!
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