Dragões da Independência: notas sobre sua história
por Aline Montenegro Magalhães
Mais uma vez, uma postagem da professora Lilia Schwarcz inspira um textinho aqui. Obrigada Lili, sempre inspiradora!!!! No post em questão, Schwarcz divulgou uma fotografia do presidente inominável e seus ministros, em uma cerimônia de hasteamento da bandeira, que, mais uma vez o afastou do seu trabalho, em plena terça-feira, e tentou tirar o foco da população das questões que efetivamente importam para o país no momento: pandemia, CPI da Covid-19, etc. Em seu comentário, ela chama atenção para o 1o Regimento de Cavalaria de Guarda do Exército, os Dragões da Independência, guarda da Presidência da República, nos convidando a ler o quadro “Independência ou morte” do Pedro Américo. Chama a nossa atenção para o corpo militar de cavalaria, a Imperial Guarda de Honra de D. Pedro I, que ali aparece, criado três meses após a Independência, com militares voluntários que se dedicaram à proteção pessoal de d. Pedro a partir do Dia do Fico (09/01/1822). Após aceitar o convite e fazer a leitura dessas imagens do poder com ela, não resisti e fiz um comentário explicando um pouco a história dos Dragões da Independência. Me empolguei e resolvi escrever esse textinho. Espero que gostem.
Foi Gustavo Barroso quem idealizou o corpo militar dos Dragões da Independência, quando foi deputado federal pelo estado do Ceará entre 1914 e 1918. Inspirado no uniforme da Imperial Guarda de Honra de D. Pedro I, os Dragões deveriam ser criados para o desfile de 7 de setembro de 1922, assumindo a função de guarda da Presidência da República, quando o Brasil completaria o seu primeiro centenário. Esse plano não deu certo, mas o novo corpo militar acabou sendo criado em 1926 e até hoje acompanha o presidente da república em posses e outras cerimônias.
A campanha de Barroso pela criação dos Dragões não ficou apenas na Câmara dos Deputados, e durante o seu mandato, ganhou outros espaços como a imprensa e o Museu Histórico Nacional (MHN), Rio de Janeiro. Sua ideia era estabelecer elos entre o passado monárquico e o regime republicano, em meio à crise vivida nos anos iniciais da Primeira República e com uma grande comemoração em vista. A ele, nada melhor do que investir na simbologia da história militar, tema que dominava, haja vista o livro de sua autoria, “Uniformes do Exército Brasileiro”, ilustrado por José Wasth Rodrigues, publicado no ano celebrativo de 1922.
É possível identificar parte dessa campanha no Museu Histórico Nacional de 1924, com a imagem de três capacetes da Guarda de Honra de D. Pedro I ilustrando a capa do primeiro catálogo de exposições do MHN, organizado pelo então diretor da Instituição, Gustavo Barroso. Nessa publicação é possível conhecer a “Sala dos capacetes”, que continha objetos das épocas colonial, Brasil-Reino, Independência e Regência. Entre os 328 objetos, apenas quatro capacetes de bronze da Imperial Guarda de Honra foram suficientes para dar nome à sala, numa clara hierarquia de valoração do que estava ali exposto.
Atualmente, os capacetes da Guarda de Honra de d. Pedro I dividem espaço numa vitrine com um dos Dragões da Independência, no módulo expositivo “A construção do Estado Nacional”, no MHN. Ali, compõem a narrativa dos símbolos de poder, num diálogo de temporalidades entre Império e República no Brasil. Um bom passatempo para os visitantes é procurar o que diferencia os primeiros capacetes do segundo, tão quase idênticos que são. A diferença mais perceptível é que, no centro do capacete da Imperial Guarda de honra estão as iniciais do primeiro imperador do Brasil coroadas e no dos Dragões, uma estrela como símbolo republicano.
Saudade de andar pelas exposições do MHN… saudade de parar em frente a essa vitrine e lembrar, junto com os visitantes, da cena da posse do presidente Lula, onde se via a multidão eufórica disputando espaço com os Dragões, quebrando os protocolos de segurança, na tentativa de ver, o mais de perto possível, aquele momento histórico. Cena muito distante daquela estampada no quadro “Independência ou Morte” de Pedro Américo e da fotografia do presidente e seus ministros na cerimônia de hasteamento da bandeira.
Para saber mais:
Se não fosse pelo cunho apelativo de ideologia política, o texto até que seria bom, mas a História oficial está muito acima de comentários ideológicos de cunho pessoal
Oi Felipe, obrigada por sua opinião sobre o texto. As notas históricas sobre os Dragões da Independência são baseadas em pesquisa muito séria, mas sobre a qual foram lançadas também miradas afetivas, de acordo com a proposta desse espaço, sem prejudicar seu caráter informativo e pedagógico. Abraços,