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Educação no feminino com Nísia Floresta e seu Opúsculo Humanitário

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Por Aline Montenegro Magalhães

Foi no dia 12 de outubro, geralmente lembrado como Dia das Crianças e feriado em homenagem a Nossa Senhora Aparecida, que li um post que se destacou na minha linha do tempo do Instagram, justamente por não falar de uma coisa, nem outra. E foi esse post que inspirou a escrita deste texto, que é uma homenagem às professoras e professores, lembrando uma referência no campo da educação e das lutas de emancipação feminina no Brasil. O post foi escrito por Nataraj Trinta, minha grande amiga e parceira de longa data, no seu perfil N30. Informava que naquele dia, no ano de 1810, numa cidade do Rio Grande do Norte, que hoje leva o seu nome, havia nascido Dionísia Pinto Lisboa, depois Dionísia Gonçalves Pinto, que passou a se autodenominar Nísia Floresta Brasileira Augusta.

Ao ler o post, não pude me furtar a celebrar este dia 15 de outubro, aqui no Exporvisões, com algumas notas sobre livro “Opúsculo Humanitário”, de 1853, que reúne artigos antes publicados nos jornais “O Diário do Rio de Janeiro” e “O Liberal”. Nesta obra, Nísia Floresta combate o modelo educacional vigente à sua época e lança propostas inovadoras para a educação no Brasil, compartilhando um pouco do trabalho pedagógico realizado no seu Colégio Augusto, voltado para a educação feminina, e assim denominado em homenagem ao seu segundo marido Manuel Augusto de Faria Rocha.

No Colégio Augusto, as meninas aprendiam “Latim, Caligrafia, História, Geografia, Religião, Matemática, Português, Francês, Italiano, Inglês, Música, Dança, Piano, Desenho e Costura”, seguindo um currículo voltado para desenvolver as habilidades físicas, morais e intelectuais das alunas. Essa educação, que tanta crítica recebia na imprensa, deveria criar condições para a independência das mulheres e sua integração à sociedade como agentes, e não como um objeto de satisfação do desejo masculino, papel que Nízia não admitia, repudiava veementemente.

Como fez Joaquim Manuel de Macedo em seu livro “Mulheres Célebres”, Floresta enalteceu a biografia de muitas mulheres. Mas não focada apenas no valor da virtudes do coração, como o romancista fez, mas na conjunção entre moral, inteligência e ação, lembrando nomes como o da guerreira Joana D’Arc, da francesa Condessa de Genlis que teria dedicado sua vida à educação, da escritora inglesa Inchbald (Elisabeth Simpson) e da ativista política alemã Mathilde Franziska Anneke. Essas e outras mulheres inspiravam o projeto político e de educação feminina da escritora potiguar.

A abolição da escravidão era uma das principais bandeiras levantadas pela autora. Segundo ela, o regime escravista era o maior empecilho para a boa educação das meninas, o principal mal do país. Afinal, como ensinar moral num ambiente amoral como o das relações entre escravos e senhores? Outro grande mal era a religião católica praticada no Brasil, que permitia a escravidão, por isso, não sendo digna de pregar a palavra de Deus.

Em seus discursos, as mulheres indígenas são destacadas como uma referência, por serem consideradas fiéis, trabalhadoras e boas mães. Segundo Floresta, na condição em que estavam, superavam as mulheres ditas “civilizadas”, presas em sua ociosidade, ignorância e futilidade.

Também há destaque para o papel das mulheres como operárias, em substituição à mão de obra escravizada, a impulsionar o desenvolvimento do país, e garantir o progresso material dessa classe trabalhadora.

Enfim, apesar de as ideias de Nísia não terem sido acolhidas e praticadas no século XIX, a ponto de transformar a educação, foram sementes germinadas e que floresceram anos depois. Fizeram eco e moveram ações ajudando a construir outras concepções de ensino e cidadania para as mulheres. E por isso, nós agradecemos. Um Salve a Nísia Floresta!

P.S.: vocês já devem ter reparado que já gosto de um “no feminino” nos títulos, né? “histórias no feminino”, “independência no feminino” e agora, “educação no feminino”. Me apeguei a esse termo depois de ler o capítulo “Cidadania no feminino” escrito por Maria Lygia Quartim de Moraes, na obra organizada por Jaime Pinsky e Carla Bassanezi Pinsky, História da cidadania (2003).

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