MUSEU DA MEMÓRIA NEGRA DE PETRÓPOLIS, UM MUSEU POSSÍVEL!
por Filipe Graciano
Algumas cidades nascem negras, e o caso de Petrópolis, região serrana do estado do Rio de Janeiro, não é diferente. Território de narrativas controversas que valoriza a história de cidade imperial colonizada por colonos europeus e construída pela mão de obra livre. Uma narrativa forjada que tende a negligenciar e omitir a existência negra e toda sua contribuição intelectual, filosófica, artística e tantas outras formas de existir na consolidação de Petrópolis.
O Museu da Memória Negra de Petrópolis vem a ser uma fissura frente a negação de nossa existência, atuando como um equipamento de tensionamento diante do campo da memória na cidade. Um Museu de deslocamento epistemológico não só do que foi vivido no passado, mas da maneira como aprendemos a reverberar no presente e projetar futuros. Este é o Museu da Memória Negra de Petrópolis.
Uma realização que surge em meados de 2018 como proposta da disciplina de Projeto V no curso de Arquitetura e Urbanismo da UERJ, que condicionada a urgência de sua realização, extravasa o que é o espaço acadêmico, iniciando uma jornada de compromisso de sua realização existencial no espaço de disputas da cidade e de suas narrativas.
No dia 13 de maio de 2019, através de um convite aberto para a sociedade, fez-se a fundação simbólica do Museu. Em sua continuidade, no ano de 2020 se iniciou a caminhada pela institucionalização e de aprofundamento do compromisso pela realização existencial do Museu da Memória Negra de Petrópolis.
Um museu que acredita na reinvenção de nós por nós. Que visa reconstruir do presente outras possibilidades de futuro, entendendo que tal condição exige uma nova realidade não só em termos de narrativa, mas também de moradia, saúde, trabalho, espiritualidade e tantos outros componentes sensíveis da presença negra. Um museu de compromisso em manter e ampliar a cultura afro-brasileira de resistência e de afirmação de nossas presenças. Um museu que faz a denúncia do apagamento de nossas memórias e anuncia a significativa dimensão da presença negra petropolitana.
Junto à proposta acadêmica anda a sua “realização existencial”, uma visão estratégica pensada a longo prazo para concretizar o museu no espaço de disputas da cidade e em suas narrativas. Organizada em 3 etapas, sendo o MUSEU VIRTUAL junto ao processo de institucionalização do museu, o primeiro momento de nossa realização. A médio prazo, a partir do acervo que estamos levantando e organizando, iremos realizar EXPOSIÇÕES ITINERANTES por toda cidade, disseminando e descentralizando memórias. Em sua continuidade, a longo prazo, está a consolidação do PROJETO ARQUITETÔNICO do museu na cidade. Um projeto ambicioso, mas urgente e necessário.
O Museu se dedicou no ano de 2021 a suas realizações a curto prazo, as ações começaram através da organização de um coletivo, uma vez que se entende que sozinho nada acontece, a conquista vem em conjunto. OS NOSSOS PASSOS VÊM DE LONGE E PRECISAMOS IR MAIS LONGE JUNTOS. Logo, nessa fase de vivenciamento, buscou-se estar articulado e consciente de construções via coletivo, via luta política, via debate, organização, capilaridade, de forma enraizada, consciente, presente na cidade. Cria-se uma equipe multidisciplinar, com diferentes atores que atuam em eixos estratégicos para construção organizacional do museu, a fazer luta, comunicação, pensar estratégias, fazer frente, poder fazer luta, demandar, fazer pressão.
Como nos aproximamos? Virtualizando a proposta e criando dispositivos de comunicação visual em campo. Fazendo uma pré-virtualização do Museu, um ensaio para a criação do museu virtual nas plataformas digitais em grande uso hoje, como instagram, facebook e youtube. Isso se fez possível através da transformação do que é uma fundamentação um tanto quanto dura, para um processo mais artístico, estético, sensível e visual, que foram tocando os corações. Aqui firmou-se um compromisso criativo.
A proposta se volta, então, para o ato de produzir e expor a virtualização do museu/sítio, propondo outras representações possíveis, reunindo temporalidades diversas, obtidas por meio de pesquisa, fazendo a montagem e criação de cenários e outros territórios, evidenciando outras narrativas possíveis até então invisibilizadas e incentivando novas interpretações e reações contra hegemônicas.
Assim, o coletivo propôs estrategicamente uma construção afetiva e efetiva, que se iniciou no dia 13 de maio de 2021, indo até o dia 20 de novembro de 2021, sete meses dedicados à construção existencial do Museu a curto prazo. Realização que culminou com o lançamento do Museu Virtual no dia 20 de novembro com e defesa do Trabalho Final de Graduação no dia 22 de novembro, junto com o anúncio e apresentação do estatuto produzido pela equipe do Museu e todos seus colaboradores.
Conheça o Museu Virtual acessando:
https://museudamemorianegradepetropolis.com
Em nosso Museu Virtual, organizamos a Galeria “Sou Memória Negra”, originada a partir da citação de Beatriz Nascimento, “Nosso corpo é nosso último quilombo”. Tendo o corpo como possibilitador de memória coletiva ancorada à fisicalidade negra, ao organismo como um quilombo que amplia o conceito de lugar. Um quilombo andante, vivo. Uma ação que propõe pensar o corpo, os gestos, os modos e a linguagem como materialidade central para a produção de memória, de identidade e, portanto, de história. Logo, enquanto o último corpo negro tocado por esse projeto existir, esse museu também existirá. NÓS SOMOS UM QUILOMBO ANDANTE VIVO! Uma germinação de diferentes narrativas negras em prol da construção de um acervo de memória, uma ação que reivindica outras referências que não somente as escravizadas, pois não somos e não queremos ser um museu de correntes. Buscamos representações que refletem toda a potencialidade que somos.
A proposta de virtualização do Museu vem como resposta aos desafios impostos pela pandemia da Covid-19, mas também como forma de reinvenção às provocações colocadas aos museus na atualidade. Uma visão estratégica de aproximação e contato com a população da cidade. A virtualização do projeto vem como um instrumento que pode facilitar a realização existencial do museu, de modo a democratizar o acesso ao seu acervo, assim, descentralizando formas de conhecimento.
Hoje o Museu da Memória Negra de Petrópolis firma-se como um movimento coletivo dedicado a fundar um acervo público para mulheres e homens negros desta cidade, reivindicando narrativas e promovendo ações representativas para a população afro-petropolitana. Um museu de memórias, história e cultura afro-brasileira da cidade.
4 anos de realizações que se encontram na encruzilhada da invisibilização de memórias e histórias negras, apresentando caminhos possíveis de rompimento das narrativas impostas, nos deslocando do lugar de coadjuvante e nos colocando como protagonistas de nossas histórias, provocando identificações individuais e coletivas de modo a reafirmar identidades negras na plenitude de sua existência.
Somos um museu de Trabalho, registro, preservação e disseminação de memórias, histórias, estéticas e cultura afro-brasileira da cidade de Petrópolis. O museu como o lugar da comunicação e da educação; o lugar da pesquisa e da ciência e o lugar da guarda, cuidado, proteção e afetos da memória. Em 2022, dando continuidade ao plano estratégico, iremos realizar o plano museológico participativo do Museu. Um Museu de deslocamento epistemológico não só do que foi vivido no passado, mas da maneira como aprendemos a reverberar no presente e prospectar futuros. Este é o Museu da Memória Negra de Petrópolis.
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