Marielle, presente!
por Aline Montenegro Magalhães
Rio de Janeiro, 27 de julho de 2022, uma quarta-feira da semana que começou com a celebração do Dia da Mulher Negra Latino-americana e Caribenha (Segunda-feira, 25/07). Dia em que uma mulher amefricana – como diria Lélia Gonzalez ao sublinhar o protagonismo das afrodescendentes das Américas – Marielle Franco, completaria 43 anos, caso não tivesse sido brutalmente assassinada no dia 14 de março de 2018.
Foi no Buraco do Lume, como é popularmente conhecida a Praça Mário Lago, no centro da cidade, que a estátua de Marielle, produzida por Edgar Duvivier foi inaugurada. Na presença de familiares, amigos e outras tantas pessoas que lotaram o lugar, a inauguração contou com uma aula pública de sua irmã, Anielle Franco “A memória é a semente para novos futuros”, e com o SLAM “Justiça por Marielle”.
O monumento, em tamanho natural, mede 1,75 e representa a vereadora discursando em pé, sobre um caixote, o que costumava fazer ali, prestando contas de sua “mandata” a suas eleitoras e seus eleitores. Com o braço esquerdo levantado e a mão em punho cerrado, nos lembra a sua luta contra o racismo, inspirada no gesto dos Panteras Negras.
A estátua reproduz seus cabelos crespos ao alto, envoltos com uma faixa (ou turbante?), penteado que se tornou uma marca pessoal, contribuindo para a construção de uma postura identitária de valorização da mulher negra em sua inteireza, plenitude e ancestralidade, amplamente visto na “coroa” de tantas outras mulheres negras. Seu sorriso largo e franco, ali também estampado, nos lembra sua arte de sorrir frente às adversidades e como forma de (re)existência.
Como bem diz o título da aula pública de Anielle Franco, a memória de Marielle é semente para o futuro. Para tempos vindouros em que reine o direito de todos/as ao bem comum, um futuro que queremos. Afinal, em consonância com tantas contestações a estátuas e monumentos em espaço público, por representarem um passado, ainda presente, de racismo, exclusão e opressão, a estátua de Marielle foi desejada por centenas de pessoas que contribuiram com a vaquinha online que tornaram possível a confecção e instalação da obra na praça pública. E é o público que continuará mobilizado para que nada aconteça à Marielle de bronze.
E essa memória, agora também esculpida no bronze, vem sendo construída em tintas coloridas que a representam em espaços urbanos por aí afora, em músicas, poesias, camisetas, adesivos, etc. Sem contar nas milhares de placas que dão seu nome a uma rua da cidade e que se reproduziram a perder de vista, ocupando lares, museus e estabelecimentos comerciais São objetos e imagens que demonstram o quanto Marielle segue nos inspirando e fortalecendo a luta por justiça, igualdade, liberdade… a luta pela VIDA!
E assim, a escultura parece “fazer brotar vida ali de onde a morte a suprimiu”, como escreveu Achille Mbembe, um estudioso da necropolítica, essa política nefasta que define quem merece viver e quem deve morrer, e que ceifou a vida da “Mari”. Ao passarmos por ela, não apenas admiraremos a sua arte e tiraremos fotografias para postar nas redes sociais. Pois questionaremos sempre: “Quem mandou matar Marielle e Anderson?” E seguiremos cobrando as respostas das autoridades, reafirmando: “Marielle, presente!”
Marielle vive e será lembrada sempre. É nosso dever!
E o importante é que a sociedade está sendo guardiã dessa memória, ao colaborar para a produção e instalação da escultura em praça pública e zelar por sua integridade. Obrigada por seu comentário, Marta. Forte abraço.