Inhã Uchô e Instituto Pachamama
Por Aline Rochedo Pachamama- Churiah Puri
Inhã Uchô
Fale comigo
Fica comigo
vibre meus sonhos
Transpire-me esperança
Pulse em mim o Amor
Energize-me Luz
Aonde eu for
Por onde eu andar
No que eu sonhar
Ama-me a seiva do ser
Proteja-me com a Ancestralidade
Dai-me a sabedoria das anciãs sensíveis
A ternura das crianças
A coragem dos bondosos
A força do raio e o frescor da chuva
Afaste-me da arrogância
E aproxime-me de quem eu amo
Em reciprocidade
Quero estar ao lado de quem eu possa ser parte
E de quem deseja a presença
De quem se felicite com o som do riso
De quem acolhe o convite
Para estar Presente
Para Ser Presente
Para que eu inspire
A olhar estrelas e respirar possibilidades
Para que eu faça felizes os lugares em que estiver
As florestas estão interligadas. As raízes das árvores dialogam entre si no seio da terra e emitem som acolhedor. Nada está estático. E Pachamama é a Mãe de todas as florestas. Quando fui presenteada com o nome Pachamama, eu não sabia em plenitude os caminhos que Ela me convidaria a traçar. Os nomes de nossa mãe e pai são inseridos em nossos nomes de registro, além desses que eu honro, inseri em meu nome o da grande Mãe com a humildade de reconhecer sua grandeza e generosidade, inteligência e amor.
Amar é acreditar e confiar sem certezas.
O sonho me encoraja. Comprometida com todo sentimento que me envolve ao viver nessa Mãe Terra, seria evidente que escrever a respeito não me seria suficiente. O nosso tempo requer o posicionamento em gestos. A reparação à Mãe Terra me inquieta, mobiliza e se tornou prioridade. As injustiças e perversidades humanas para com todos os demais seres têm me feito aproximar muito dos meus tsatêh da floresta e me afastar de alguns da minha espécie, você já deve imaginar quais.
As pessoas fazem campanhas para salvar a Amazônia. Uma floresta cuja proteção e reparação realmente se fazem urgentes. Mas como estão interligados, a Floresta Amazônica vibra pela existência da Mata Atlântica, do Pantanal, do Cerrado. Estão ligados ao mesmo coração.
O Instituto Pachamama é semeadura forte, em terra adubada na perspectiva de fazer ouvir as vozes da Floresta, mobilizar pessoas a investir na prática do reflorestamento, de salvaguardar o direito de todas e todos os seres não humanos que fazem parte de Amana Tykyra (Serra da Mantiqueira). Estimular o envolvimento das escolas da região para que as crianças, para além do conhecimento estipulado por um currículo escolar ainda lacunar em relação a nossa História, saibam valorar a região, saibam quem são a Máru Uchô, o Tiê-sague, a família cantarolante dos sapos, a jaguatirica, a onça Ponnã e tantos outros. Para reparar igualmente o meu povo, um dos braços do Instituto Pachamama é o projeto Inhã Uchô.
O projeto Inhã Uchô está na gestação desse ventre, a Mantiqueira – com sua vida plena-, e o Povo Puri como Patrimônio Imaterial e Histórico da região de Visconde de Mauá (Amana Tykyra) – Resende. Tronco-Corpo de um movimento que veio com o pedido de nossos ancestrais. Semeadura capaz de expressar a vida de não humanos, das águas, da Floresta Mata Atlântica e das oralidades, história e cultura do Povo Puri. Como uma grande habitação originária, representa um espaço físico para encontros, oralidade, estudo da língua, exposição de nossa arte, dentre outras finalidades.
Precisamos reparar a Mãe Terra e, também, as memórias traumáticas de nossas ancestrais. Sinto que podemos promover a cura para o útero de nossas mães, avós, bisavós e, também, a parte masculina de nossos descendentes quando as e os amamos no tempo Presente e nos envolvemos numa causa coletiva. Não tenho histórias românticas a compartilhar contigo, mas tenho uma história amorosa.
Salvaguardar as premissas originárias é História. Assim, o Espaço Inhã Uchô, destina-se à realização de encontros com mulheres e homens Puri (e parentes de outros povos). Na escuta das percepções e sentimentos, à reconstrução dos fatos (memória) e registros de fragmentos do idioma, além das peculiaridades do povo, e de dinâmicas organizativas e perfil dos integrantes dos grupos Puri que vivem no contexto das cidades na Serra da Mantiqueira; à criação de redes de estudos de idiomas indígenas; à difusão da cultura Puri como Povo Originário da região, por meio do fortalecimento da palavra escrita e da cultura como elementos de aprendizagem. Além disso, o Espaço Inhã Uchô visa à integração com as escolas da região e com a população local através de atividades diversas e encontros abertos à sociedade não indígena.
O Espaço, por meio das ações desenvolvidas, pretende fortalecer a identificação dos elementos de herança originária entre os moradores das cidades da Mantiqueira e os significativos elos de identidade e representações Originárias. Tal fortalecimento se dará recebendo povos de variados grupos do país para troca de saberes; o desenvolvimento do turismo étnico e didático; cursos, seminários que contemplem os Povos Originários brasileiros, assim como a resistência de seus protagonistas; revitalização das hortas medicinais da região; validação do processo de produção da farinha de pinhão como legado do povo Puri da região.
Faz-se também necessário reafirmar nosso compromisso de salvaguardar o direito à água por ela mesma para que flua, alimentando a tudo e a todos, não podendo ser rotulada, engarrafada, aprisionada e taxada, sob pena de condenar à morte pessoas e organismos dela dependentes e que não teriam como pagar por ela, garantindo, assim, os mesmos direitos de vida aos não humanos e humanos. Por isso, a preservação do nosso avô Nhamatuza Tenhô – Rio Preto – é uma das prioridades.
Amana Tykyra – Mantiqueira – território do Povo Originário Puri
Querem provocar esquecimento, mas não conseguirão apagar Amana Tykyra. Querem dizer que os europeus imigrantes que se instalaram aqui marcam o início da “estória” regional, mas não podem contestar dados Históricos e a voz da Ancestralidade. Eu Moro em Amana Tykyra – Inhã Uchô – Mantiqueira (e lamento que a cidade em que moro, tenha sido denominada de “Visconde de mauá”). Por isso, a edificação de um espaço de Memória Puri é indispensável e desdobra-se, a partir do reconhecimento da Serra como território indígena e do aprendizado da floresta, em ações como cursos, plantios, reflorestamento, distribuição de sementes crioulas, produção de horta medicinal com plantas nativas da Mata Atlântica, produção e distribuição de mcursosudas de árvores da Mata Atlântica, processos de aprendizado com Culturas Indígenas, de Idiomas Indígenas, seminários de Culturas Indígenas, dentre outros sonhos. Com o espaço, propiciaremos:
As ações reflexivas, intervenções, oralidades, as publicações que já existem e as que sonhamos como raízes da Araucária atravessam distâncias e invisibilidade. Com isso, você pode perceber que os Puri, ainda que não tenham aldeia, são Originários, fazem parte do território da Mantiqueira e a preservaram da exploração colonizadora com sua presença.
Temos o direito à reparação e ao reconhecimento por parte da sociedade não indígena.
……………………………………………………………………………Trecho do livro INHÃ UCHÔ – território Corpo Espírito de Aline Rcochedo Oachamama- Churiah Puri